As relações entre Brasil e Argentina são marcadas por aproximações e recuos. Os países dividem uma fronteira com mais de 12 mil quilômetros, marcada por rios, e juntos possuem uma área que representa 63% da área total da América do Sul. O Brasil é o principal parceiro comercial da Argentina.
A relação do Brasil com o país vizinho ocupa uma posição central na política externa brasileira. De modo que as estratégias de integração regional e internacional brasileiras sempre consideram Los Hermanos.
As relações entre o Brasil e Argentina
Entre amizade e guerra, as relações Brasil-Argentina se estendem por mais de dois séculos, abrangendo diversas áreas como comércio, cultura, educação, saúde, defesa, turismo e outras.
Após adquirirem a independência do Império Espanhol e do Império Português, respectivamente, a Argentina e o Brasil disputaram alguns espaços, conflitos estes que não foram resolvidos durante o período colonial.
Com o aprofundamento da democracia e o avanço econômico, a relação entre os países foi se fortalecendo em direção a uma maior integração, com bases mais sólidas para uma cooperação mútua e recíproca.
A parceria estratégica entre o Brasil e a Argentina não só trouxe estabilidade desenvolvimento para a região, mas para toda a América Latina também.
Histórico
As relações Brasil-Argentina durante o Império foram marcadas por instabilidades com predomínio da rivalidade que, na maioria das vezes, estava ligada às percepções de cada império nas esferas políticas e econômicas.
A Argentina iniciou seu processo de independência em 1810, que se concretizou em 1816 com a declaração de Independência pelo Congresso de Tucuman. Já o Brasil obteve sua independência sem romper com a monarquia, quando o Imperador Pedro I se manteve na linha de sucessão ao trono de Portugal.
Um importante momento de rivalidade entre os dois países foi a Guerra da Cisplatina (1825-1828), que fez as províncias argentinas se oporem ao Império. O Brasil decretou a guerra após o Congresso das Províncias Unidas do Rio da Prata (PURP) aprovar a reintegração da Banda Oriental ao seu território, e bloqueou os portos argentinos para o comércio exterior.
Por bloquear os portos, os brasileiros desagradaram os ingleses, que interferiram no conflito e, como solução de compromisso, criaram o Uruguai.

A Guerra da Cisplatina foi uma derrota política e econômica para a Argentina, pois houve uma redução no território que seria seu por direito. O conflito também teve uma atuação importante na consolidação da unidade entre as províncias e da hegemonia de Buenos Aires.
Outro conflito marcante nas relações Brasil-Argentina durante o Império ocorreu no Segundo Reinado (1849-1889) com Juan Manuel Rosas, que interveio no Rio da Prata impondo restrições na navegação. Em resposta a essa intervenção, houve uma defesa das independências de Paraguai e Uruguai contra os interesses da Confederação Argentina, a livre navegação na Bacia do Prata e a adoção de uma doutrina de limites.
Um pouco antes, em 1832, Juan Manuel Rosas, líder dos federalistas que defendiam um sistema de pacto entre províncias, tornou-se encarregado dos Negócios Exteriores da Confederação Argentina e, na tentativa de mudar o equilíbrio de poderes na região, ele impôs restrições na navegação, bloqueando portos impostos por França e Grã-Bretanha.
Assim, com o apoio de duas províncias argentinas e do Uruguai, o Império brasileiro confrontou Rosas e o derrotou na Batalha de Monte Caseros (1852). Com a derrota de Rosas, foi estabelecido um novo período de hegemonia brasileira no Rio da Prata.
Com o fim da Guerra do Paraguai (1865-1870), que pôs o Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai, foi estabelecido um novo momento de rivalidade entre Argentina e Brasil. Quando a Argentina obteve um acordo com o Paraguai, em 1876, as relações bilaterais com o Brasil foram melhorando.
Um importante marco nas relações Brasil-Argentina foi o Acordo Tripartite de Cooperação Técnico-Operativa de 1979, que foi celebrado pelo Brasil, Argentina e Paraguai, trazendo resoluções para o aproveitamento hidroelétrico no trecho do Rio Paraná até a foz do Rio da Prata.
No início da década de 80, o Brasil e a Argentina ainda firmaram acordos de cooperação para o desenvolvimento e aplicação pacífica da energia nuclear, resultando na criação da Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (1991).
Um importante marco na história Argentina e em sua política externa é a Guerra das Malvinas. Em abril de 1982 a Argentina invadiu as Ilhas Falkland, também conhecidas como Ilhas Malvinas, que estavam sob o domínio do Reino Unido. Oficialmente, o Brasil manteve-se neutro no conflito, mas desde 1833 reconhece a soberania argentina no território.
Com a posse presidencial do argentino Néstor Kirchner (2003-2007), tivemos o Brasil como uma prioridade na política externa argentina. Esta posição de prioridade exercida pela Argentina despertou uma ação recíproca do Brasil, simbolicamente demonstrada pelo presidente Lula, que escolheu o país vizinho para ser a sua primeira visita oficial ao exterior.
Para o Brasil, a aliança estratégica com a Argentina poderia transformar a América do Sul em uma potência mundial. Desde então, a Argentina e o Brasil vêm coordenando posições em fóruns multilaterais e aprofundando as cooperações bilaterais.
Por diferenças ideológicas, houve uma deterioração nas relações bilaterais durante o governo brasileiro presidido por Jair Bolsonaro e o governo argentino presidido por Alberto Fernández. Os principais motivos para a instabilidade foram as divergências sobre a integração regional e a questão venezuelana.
E para o futuro? O que esperar do Brasil e da Argentina?
No momento, a Argentina segue para o 2º turno das eleições presidenciais, na disputa estão o libertário Javier Milei e o peronista Sergio Massa.
Para a política internacional, os candidatos possuem visões completamente contrárias. Massa busca uma política externa pragmática, priorizando o interesse nacional, focada na promoção de exportações para atrair investimentos, além de apoiar as pequenas e médias empresas. Enquanto Milei busca prioridades nas relações com os Estados Unidos e Israel, uma relação mais aberta e flexível com o Brasil. O candidato também já expressou que considera o Mercosul como um “fracasso comercial”.
Por essas razões, ainda é incerto afirmar ou prever a relação Brasil-Argentina no futuro.
Cooperação
O Brasil e a Argentina cooperam em algumas áreas. Vejamos:
- Militar
Os países se envolvem em diversos projetos de empreendimento conjunto, como veículos blindados e aeronaves de transporte militar.
Em 2004 iniciou-se o projeto Gaúcho, veículo blindado, em que a sua produção é dividida entre os dois países. Ainda conjuntamente, os países desenvolvem o avião de transporte militar bimotor KC-390.
- Científica
No âmbito científico, os países estreitam relações na ciência espacial. Desde 1990 a Comissão Nacional de Atividades Espaciais da Argentina e a Agência Espacial Brasileira trabalham juntas.
Na primeira missão espacial conjunta dos dois países, em 2007, o foguete VS-30 foi lançado ao espaço com sucesso.
Contamos ainda com a criação da Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares, citada anteriormente. Em 2008, durante uma visita de Estado de Lula a Buenos Aires, foi estabelecida uma comissão binacional para busca conjunta de enriquecimento de urânio para produção de energia nuclear.
Economia
Em 2022, no comércio exterior com a Argentina, houve uma participação total de 4,7%, aproximadamente US$ 28,4 bilhões.
A Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, ficando atrás apenas da China e dos Estados Unidos.
Buenos Aires também foi o 3º maior destino de exportações e de importações em 2022. O principal produto importado foi veículos automóveis para transporte de mercadorias e usos especiais.
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