Ondjaki: o escritor angolano que caiu na prova de diplomata


Quem é Ondjaki?
Onjaki, como é popularmente conhecido Nadou de Almeida (1977), é um poeta e escritor angolano. Suas obras retratam de forma autobiográfica histórias vividas na infância e juventude com pano de fundo Angola.
Ondjaki viveu um tempo no Rio de Janeiro em 2007, fã da literatura brasileira, sobretudo da obra de Clarice Lispector e Guimarães Rosa, Manoel de Barros entre outros. Vencedor de uma série de prémios literários, como o Prémio Jabuti (2014, 2010) e Prêmio José Saramago (2013), deixou sua marca também no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) com uma polémica passagem.
Entenda mais em detalhes abaixo.
Como o autor caiu no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD)?
Em edições passadas, já foi comum se esperar nas provas de Português do concurso da diplomacia a cobrança questões baseadas em trechos da obra de escritores lusófonos de outras nacionalidades que não a brasileira. Em 2009, tivemos um trecho de “Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra”, do moçambicano Mia Couto. Em 2011, foi a vez de “Os da minha rua”, do angolano Ondjaki.
Bom, fato é que o que parecia uma tendência – a presença de escritores de outras nacionalidades que não a portuguesa e brasileira no concurso – acabou não se confirmando no longo prazo. O ano de 2011, com Ondjaki, foi a última vez que vimos na prova objetiva de Português cair uma questão baseada em obra de escritor que não seja brasileiro.
Segue um trecho cobrado de “Os da minha rua” e a respectiva questão:




A polémica questão do “bué de lágrimas” teria sido anulada pela banca sob a seguinte justificativa:
A palavra “bué” tanto pode ter sido empregada, no texto, como vocábulo do português brasileiro de origem onomatopeica quanto pode ter sido empregada pelo autor angolano, com o sentido de “muito”, “grande quantidade” (vocábulo de origem portuguesa ou, talvez, originária do quimbundo, língua falada em Angola). Dessa forma, opta-se pela anulação do item.
Teria a polêmica sobre o significado de regionalismos como o famigerado “bué de lágrimas” levado a banca a não mais se aventurar para além das fronteiras nacionais? Difícil saber…
Fato é que após a questão Ondjaki em 2011 passaram-se 10 anos e nunca mais topamos com uma questão tirada da obra de um autor que não seja brasileiro na prova objetiva.
Reza a lenda que um familiar de um candidato, assistindo a um workshop ministrado por Ondjaki na França, poucos dias após o TPS de 2011, fez ali mesmo, da salinha do coffe-break, um vultoso interurbano para consolar o candidato, reprovado no CACD, com as palavras com que o angolano abriu o workshop:
“Este era para ser um workshop sobre escrita. Mas não vamos falar sobre escrita. Vamos falar a leitura. Vejam vocês que um texto meu foi cobrado em processo seletivo para um cargo de alto escalão no Brasil. Fico lisonjeado. Mas o problema é que quem elaborou a prova não entendeu bem o que eu estava a dizer…”.
Às vezes, dá até vontade de chorar…
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