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Como trabalhar na ONU?

Amigos do Clipping, vamos falar aqui hoje sobre o processo seletivo para as carreiras da ONU. Ah, Clipping, mas esse assunto não tem nada a ver com o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD)! Sim. Isso é verdade! São processos seletivos bem diferentes para carreiras distintas. Depois que falamos no Blog sobre a questão dos mestrados no exterior e sobre como o Itamaraty não é a única porta de entrada para o universo das carreiras internacionais, muitos leitores do Clipping levantaram a temática sobre como funciona o processo seletivo da ONU.

As informações oficiais sobre o processo seletivo da ONU são muito bem explicadas no site Oficial das carreiras da ONU. Mas assim como no CACD, o processo seletivo para as carreiras da ONU tem suas regras não escritas, seus mistérios e seus macetes. E não é sempre fácil achar as informações de qualidade escritas por pessoas que passaram por essa luta. Por essa e por outras pedimos autorização para uma das autoras de um dos posts mais clássicos sobre o processo seletivo da ONU para traduzirmos o texto publicado no site e publicarmos aqui no Clipping.

Abaixo, o texto: 

 

Conseguindo um trabalho nas Nações Unidas

*por Caroline Bach (texto publicado originalmente em inglês no site http://www.carolinebach.com/)

**disclaimer: Esse texto foi publicado em 2013. Os cargos ocupados pela autora atualmente não são mais os mesmos.

Umas duas vezes ao mês, eu recebo um e-mail de um estranho que sonha em conseguir uma vaga de trabalho na ONU. Geralmente, eles encontram meu blog através do artigo em que eu explico como preencher eletronicamente o formulário P11, que, aparentemente, possui uma lacuna de informação e gerou muita procura.

Normalmente, os e-mails seguem mais ou menos a mesma estrutura:

Prezada Caroline,

Você não me conhece e eu sinto muito pelo incômodo. Eu gostaria de agradecê-la e de parabenizá-la por seu importante trabalho e engajamento com a sociedade humana/crianças/futuro do mundo/os pobres e vulneráveis/etc. Como um médico/advogado/cientista social/assistente humanitário/advogado de direitos humanos/etc. de um país em desenvolvimento na África/Ásia/América Latina devidamente qualificado, habilitado e com experiência, eu tenho me candidatado para diversas vagas na ONU por muitos anos, mas ainda não tive sorte. É o meu objetivo e sonho ser parte das Nações Unidas, e eu ficaria muito agradecido se você pudesse me dar algum conselho ou se pudesse me avisar caso surgissem oportunidades em seu escritório ou entre seus contatos.

Meus sinceros cumprimentos,

X

Esses e-mails são sempre cordiais, esperançosos e, às vezes, tristes. Eles partem meu coração, porque eu vejo o potencial ou, pelo menos, um bom esforço da parte dessas pessoas – mas não há nada que possa fazer para ajudá-los.

Primeiramente, eu preciso esclarecer que não sou a pessoa certa para se pedir conselhos, já que eu não tenho um contrato permanente com a ONU. É claro que eu estou tentando conseguir um, mas, até lá, eu sou uma consultora, o que significa que eu viajo para onde sou necessária e trabalho na área em que melhor posso contribuir.

Basicamente, se houver algum tipo de lacuna/de problema/de expertise da minha área/etc. em um escritório, eu consigo um contrato temporário para trabalhar pelo tempo necessário, que geralmente é de uns dois meses. Isso é ótimo, porque eu consigo uma experiência multifacetada e percepções valiosas sobre condições e países variados, além de adorar o fato de ser algo empolgante, flexível, frutífero e inspirador. Entretanto, ser uma consultora também implica enormes incertezas e o risco significativo de ficar entre um contrato e outro, quando eu sou obrigada a viver da minha poupança, e quando eu fico tão desempregada e em busca de emprego quanto essas pessoas que me enviam esses e-mails.

Eu estou ciente do quão difícil é continuar tentando e escrevendo para outras pessoas, especialmente quando, na maioria das vezes, você nem sequer recebe um daqueles e-mails automáticos com

Prezada Senhorita: Muito obrigado pelo seu interesse, mas não…

Entretanto, como eu sei o quão importante é iniciar o contato pessoal, eu sempre tento responder e contribuir com o melhor que puder para esses e-mails que recebo, mesmo que seja só para inspirar e dar sugestões – razão pela qual eu decidi escrever esse post, já que ele me poupará muito tempo, alcançará mais pessoas, e eu poderei entrar em detalhes.

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Dito isso, eu reconheço que consegui achar o caminho certo pelo sistema e que eu obtive uma certa quantidade de entendimento sobre os procedimentos, requisitos e dinâmicas dos processos de recrutamento. Eu não estou dizendo que eu tenho a resposta para conseguir uma vaga na ONU, nem que eu tenha quaisquer soluções concretas para as pessoas que me enviam e-mails. Porém, tudo fica mais fácil, uma vez que você consiga entrar, o que deve ser o objetivo de qualquer candidato, e eu acredito que uma boa combinação de habilidades relevantes, estratégia, bom timing e uma rede de contatos forte é essencial para qualquer um.

Aqui está a minha visão sobre algumas sugestões. É claro que elas são pessoais e baseadas em minha experiência consideravelmente curta de leitura de candidaturas, do recrutamento de estagiários e do meu próprio recrutamento. Assim, se alguém com melhores conhecimentos tiver algo a adicionar, sua contribuição será mais do que bem-vinda.

 

Habilidades

É preciso um currículo forte e significativo.

Um diploma acadêmico é um imperativo para a maioria das posições e estágios da ONU. Um diploma de graduação é, geralmente, suficiente para administrative positions (G) e internships, mas um mestrado em uma área de destaque é necessário sobretudo para as vagas de consultancy e international professional staff (P). Existem várias áreas dentro do sistema da ONU, então você poderá estudar algo por que realmente se interesse. Basta ter certeza de que é um diploma reconhecido internacionalmente e não algo completamente irrelevante.

As línguas são de suma importância e os requisitos diferem, dependendo do país para o qual estiver se candidatando. É preciso saber inglês e/ou francês fluente, fora a língua local (nem sempre), e, preferencialmente, pelo menos uma das línguas oficiais da ONU (árabe, chinês, espanhol, russo).

Experiência de trabalho internacional é muito valiosa. Engajar-se com organizações não lucrativas e com ONGs mostra que você tem interesse no desenvolvimento e que é motivado pela causa, e não necessariamente pela imagem/status/dinheiro que uma vaga na ONU supostamente possa oferecer. Se estiver tentando uma posição de campo, experiências anteriores mostram que você possui resistência psicológica para aguentar dificuldades. Habilidades específicas e vasta experiência em uma determinada área são certamente de grande valia, e, se conseguir combiná-las, de algum jeito, com atividades que mostrem seu engajamento com valores, e focar na agência para a qual estiver se candidatando – isso deve ser um grande trunfo.

Finalmente, nada disso terá valor algum se não for apresentado corretamente. Trabalhe em seu currículo e ajuste-o para cada cargo que tentar. O mesmo vale para suas candidaturas. Eu já li candidaturas tão genéricas que era impossível encontrar uma conexão com a organização.

Tire algum tempo, leia atentamente umas cinco vezes o anúncio de vaga, para ter certeza de que preenche todos os requisitos, passe o autocorretor novamente e certifique-se de que tudo o que tiver mencionado seja relevante para o cargo.

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Estratégia + Network:

Seja proativo! Eu estou convencida de que entrar em contato com as pessoas e acompanhar candidaturas é o caminho certo, especialmente quando se trata da parte mais importante da busca por um trabalho – conseguir entrar e espalhar pequenas sementes de interesse. Se lhe pedirem algo, faça imediatamente. Se puder formular perguntas importantes e iniciar o contato pessoal – ligue e mostre seu interesse. Isso não necessariamente vai garantir que consiga a vaga para a qual se candidatou (e geralmente não vai), mas se você conseguir se apresentar corretamente, deixar uma primeira impressão duradoura, ou convencer a pessoa certa de que possui habilidades de valor, elas podem te passar para outra agência, lembrar-se de você da próxima vez ou até mesmo entrar em contato quando surgir algo importante. True story.

Qualquer um pode te ajudar se perceber que tenha uma habilidade que possa ser relevante para outra pessoa. Sua rede de contatos é seu bem mais valioso. Um amigo me disse uma vez: “Sua rede de contatos não diz respeito apenas a quem você conhece, mas sim aos contatos das pessoas que você conhece”.

Seu principal trabalho é fazer com que saibam que está disponível no mercado. Conectar pessoas é crucial para o mundo em desenvolvimento, já que profissionais habilidosos são sempre necessários. Geralmente, haverá um processo de recrutamento, mas costuma ser difícil encontrar a capacidade certa, e é obviamente mais seguro contratar alguém baseando-se em uma boa recomendação.

Sobre conseguir entrar. Estágios são o ponto de entrada mais fácil. Eles não são remunerados e nem sempre nas melhores condições, mas lhe darão a oportunidade de explorar o sistema por dentro, de fazer contatos valiosos e de aprender o máximo  possível sobre os processos. Outros colegas de estágio e de equipe são uma ótima inspiração, já que eles compartilham suas ambições e já estiveram no mesmo lugar em que esteve. Trocar ideias é extremamente valioso, e, se tiver sorte, poderá encontrar uma pessoa fantástica com muita experiência, que esteja disposta a ser seu mentor, a te inspirar e a te recomendar para futuros empregadores.

 

Timing:

Sim, será preciso aguardar o timing certo, o que é algo que não pode ser controlado. Mais precisamente, você deve estar no lugar certo, na hora certa. Ano passado, em Moçambique, eu estava tentando uma vaga na WFP, e enquanto estava visitando o escritório, eu tive uma conversa informal com o communication officer in charge, mencionando meu desejo de estar em campo, para fotografar e escrever um artigo para a revista da ONU sueca, Världshorisont. Dois dias depois, eu recebi uma ligação do escritório da UNICEF. Eles estavam procurando por alguém para documentar os projetos deles em campo com histórias e fotografias para um folheto.

Várias pessoas me disseram que você é uma boa candidata para essa consultoria.

Minha surpresa foi tão grande quanto minha felicidade – e eu enviei minha candidatura uma hora depois.

Para esclarecer, eu não acredito muito em sorte. Até pode ter parecido um exemplo claro nesse caso, mas, na verdade, ele foi resultado de muitas semanas informando as pessoas que eu estava procurando um trabalho e o tipo de ideias que eu tinha. É claro que eu tive sorte. Eu tive sorte de ter uma vaga naquele exato momento, e de que ela fosse seguida de outra vaga relevante para minha experiência, mas eu estou convencida de que conseguir um trabalho depende de sua habilidade de fazer um bom trabalho, de conseguir boas recomendações e de esforçar-se persistente e positivamente por seus objetivos, ao invés de sorte e reza.

Ou seja, certifique-se de estar no lugar certo, na hora certa, ao invés de simplesmente aguardar.

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E para de fato encontrar trabalhos e conseguir uma ideia de quais áreas precisam de alguém no momento, minha fonte preferida é de um conhecido meu, Sebastian Rottmair, que dirige o fantástico e incrivelmente útil portal UN Job List.

Nesse site, Sebastian compartilha todas as vagas da ONU divulgadas internacionalmente e, muitas vezes, também os estágios e cargos temporários. Existe uma opção para escolher a agência/posto de serviço/nível, ou até mesmo escrever palavras-chaves, para receber um e-mail de alerta semanal com os trabalhos que se encaixam em seus critérios de busca. Eu estou inscrita nesse e-mail desde sempre.

Da minha parte, esse é o melhor que eu posso fazer em termos de conselhos gerais. Existe uma página da Wikipédia detalhada sobre esse tópico, que explica o processo todo e dá algumas boas dicas e pontos de entrada: “How to get a job with the United Nations”.

Além disso, eu sei que muitos de vocês têm reflexões e ideias a acrescentar – por favor, sintam-se livres para contribuir e discutir na seção de comentários abaixo.

E boa sorte com suas candidaturas!

Atualização:

Caros, obrigada a todos por seus e-mails e comentários positivos. Eu fico feliz que tenham gostado de ler esse post. Infelizmente, eu gostaria, mas não posso ajudá-los a encontrar um trabalho, contratá-los ou conectá-los com um colega importante ou Agência da ONU. Se quiserem perguntar uma questão genérica sobre esse tópico, sintam-se livres para fazê-lo e para compartilharem esse post com outras pessoas que possam ter as mesmas perguntas, mas, por favor, não me enviem e-mails com suas perguntas pessoais, currículos, candidaturas ou pedidos de amizade no Facebook, porque eu não tenho autoridade para contratar pessoas. Ao escrever esse post, eu queria não apenas esclarecer opções, mas também mostrar que eu não tenho tempo para responder a todos os e-mails e que eu não sou a pessoa certa para se fazer certas perguntas. Eu recomendo que entrem em contato com a ONG e com as organizações da sociedade civil locais, que trabalham com várias áreas diferentes e que sempre valorizam e precisam de apoio. Ou então que explore a opção de um Online UN Volunteering.

É claro que vocês ainda são bem-vindos para entrar em contato comigo sobre outros assuntos. Só, por favor, não me enviem mais candidaturas! ☺

 *Caroline Bach adora contar estórias, fotografar e trabalhar por causas em que acredita.

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